No café da manhã só se falava da Onça, os hóspedes até me pediram para encomendar uma para a focagem noturna. Respondi que já havia feito isso, mas o entregador não era muito bom e quase nunca atendia os pedidos. O dia prosseguiu, fizemos o Caiman tour (passeio especial para ver os jacarés), canoa e voltamos para a pousada. Ao chegar na Baiazinha o Eder passou um rádio dizendo que havia visto duas Onças perto da Cordilheira do 11... Era muito longe pra chegarmos a tempo, então faríamos a focagem nas proximidades da pousada mesmo. Esse assunto permanece sempre em sigilo para não criar falsas expectativas, assim a informação morria ali... Morreria, se o professor, que estava ali pra ensinar inglês para o Didi (guia de campo), não tivesse ouvido a conversa... Assim que sentamos para o jantar ele comentou: "O outro grupo viu duas Onças!" Lancei um olhar fulminante para ele naquele momento! E segundos depois ele entendeu o porquê: Os hóspedes começaram a perguntar se iríamos ver a Onça, se o lugar que elas estavam era muito longe, se daria tempo da gente chegar e só se falou nisso durante o jantar inteiro... Todos ficaram ansiosos para começar a focagem e se não víssemos algo realmente extraordinário tudo seria um fracasso! Conversei com o Didi e decidimos mudar o trajeto. Iríamos para a Sede tentar ver a Jaguatirica na Ponte do Paizinho, já que ela havia sido avistada por ali duas vezes na semana anterior. Ao entrar na ponte pude observar dois olhos brilhando, a pulsação foi aumentando enquanto o caminhão se aproximava e a luz deixava o animal cada vez mais visível! Era a silhueta de um felino! Era ela! Novamente! A Jaguatirica! Não importa quantas vezes você olhe para um felino, todas as vezes são extraordinárias! E dessa vez ela deu um show: Primeiro estava deitada de costas para nós observando um riacho a sua frente, depois se levantou e começou a andar, se distanciando do caminhão. Quando estava cruzando o riacho um peixe se movimentou, a Jaguatirica assustou, e deu um salto com meio giro! Caiu de frente para nós e veio correndo em nossa direção! Fez uma curva e entrou no mato! E então só se ouvia o silêncio. Então comecei a chamá-la, imitando o barulho de um animal morrendo. Não se ouvia nada, a vegetação estava seca e mesmo assim era impossível ouvir os passos do felino! É completamente surreal... De repente vimos os arbustos se movimentando, e ela saiu sem fazer nenhum som! Veio andando de frente pro caminhão! Parou a mais ou menos 3 metros e ficou nos fitando por uns 30 segundos! Depois se virou e desapareceu na escuridão da floresta, silenciosamente! Fantástico! Maravilhoso! A Jaguatirica salvou o dia mais uma vez! Ao acabar o passeio fiz o discurso final com entusiasmo: "Hoje é nosso último passeio por aqui. Eu sei que todos vocês queriam ver a Onça, mas como vocês notaram o Pantanal é muito mais do que a Onça! Nós vimos paisagens incríveis, aves maravilhosas, mamíferos de tirar o fôlego e de quebra ainda vimos um felino! A Jaguatirica! Que cá entre nós, é mais difícil do que ver a Onça! Obrigado por tudo! Espero que vocês tenham gostado e que tenham uma ótima noite! Até amanhã”.
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