Era uma noite bem fria. O vento e a chuva fina faziam a lareira e o cobertor virarem um grande atrativo. Mas iríamos fazer focagem já que ficando na pousada os únicos animais que tínhamos chance de ver eram aqueles que passam nos documentários da Discovery Channel. Antes de sairmos um hóspede me perguntou: "levo meu binóculo?" eu respondi: "Leva! Você nunca sabe o quão longe a Onça vai estar." Saímos para o passeio e o vento que vinha de encontro aos nossos rostos era petrificante! mesmo com gorros, luvas, casacos e cobertores era difícil de se manter aquecido. O tempo passava, o frio aumentava, a garoa começava e nenhum bicho aparecia para contar a história. A angústia tomava conta do caminhão já que nada acontecia a mais de 40 minutos. aí vi um vulto branco! Parei o caminhão e todos os olhares se dirigiram ansiosos para o local que o silibim focava! Era um Socó Dorminhoco... Uma ave de hábitos noturnos que não impressionou muito o pessoal. Continuamos a focagem e naquela altura já achava que não iríamos ver nada... Mas ao chegar perto da Sede os bichos começaram a bombar! Primeiro foi um Arapapá! Depois uma Capivara! Aí veio um Tamanduá Mirim que ficou em pé a 2m do caminhão! Um Tamanduá Bandeira bem pertinho! Emas dormindo! Tamanduá Bandeira com filhote nas costas! Uma Anta! Um Mocho Orelhudo! E o circuito da Sede transformou uma focagem que parecia perdida em uma das melhores focagens que eu já havia feito na vida! Foi incrível! Mas ainda tinha o caminho de volta para a Cordilhira. eram 13 Km com o vento congelando, a chuva apertando e o tempo demorando pra passar... Até que o caminhão foi chegando próximo ao mata burro onde o gado geralmente se aglomera para dormir. Achei estranho pois não havia nenhum boi por ali. Aí vi dois olhos brilhando dentro da mata, mas minha visão foi encoberta por uma grande figueira... Pensei que a boiada tinha se alojado próxima a floresta para se proteger do frio. Mesmo assim resolvi deixar a luz por ali e esperar a figueira passar para confirmar... Quando a árvore passou parei o caminhão imediatamente! Não conseguia acreditar no que estava vendo! Era um dos animais mais difíceis de se ver por aqui! A Onça Parda! Estava deitada a 10m do caminhão olhando pra nós! Demorei uns 10 segundos para assimilar o que estava acontecendo e então disse: "Onça Parda! Onça Parda!" O silêncio dominou o caminhão, e todos os olhares se voltaram pra Ela! Aí algo ainda mais extraordinário aconteceu! Uma segunda Parda saiu do meio da mata para checar o que estava acontecendo! As duas ficaram lado a lado e entraram na mata! Foi inacreditável! Ao chegar na Cordilheira fiz o discurso final: "Hoje nós tínhamos tudo contra nós: está frio, está ventando, está chovendo... Mas esse lugar é fantástico e você nunca sabe o que te espera! Essa foi a melhor focagem que eu já fiz e eu tenho a certeza de que vocês vão se lembrar dessa noite para o resto das suas vidas! Muito obrigado e boa noite."
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