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quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Pantanal: Capítulo 7

Capítulo 7: O Verdadeiro Predador


A Onça Pintada possui a mordida mais poderosa entre todos os felinos! Enquanto os outros gatos possuem uma técnica de caça com mordida no pescoço seguida de sufocamento, a Onça possui uma maneira única de caçar: crava os caninos na cabeça da presa quebrando a espinha dorsal ou perfurando o crânio da vítima chegando até o cérebro. Seu padrão amarelo com rosetas pretas é a perfeita camuflagem para andar na floresta onde os fachos de luz em meio a sombra das árvores a tornam praticamente invisível! Seu nome em tupi é yaguareté, e significa o verdadeiro predador.
  
Já faziam três meses que estava guiando no Pantanal e minha vontade de ver uma Onça só aumentava. E Ela estava aparecendo, mas eu nunca estava no lugar certo na hora certa. Sabia que o momento iria chegar mais cedo ou mais tarde, mas minha ansiedade era gigantesca! 

Saímos então para um passeio a cavalo, os hóspedes estavam muito animados por ser o primeiro passeio e me perguntavam a toda hora o que iríamos ver. Mas o cavalo está ligado a estresse aqui no Pantanal. Como os peões fazem muito barulho quando estão lidando com o gado quando os animais avistam o cavalo eles normalmente fogem. Havíamos acabado de entrar em uma linda vazante quando me perguntaram se a gente ia ver a Onça. "Felinos são sempre difíceis de serem avistados, especialmente de dia. Mas..." Então disse a frase que mais repito para os hóspedes aqui no Pantanal: “Você tem que ter fé!”. Nesse momento Lico, o guia de campo, parou! Sabia que era um algo importante, mas eu era o último da fila e não conseguia ver nada... Lico olhou para mim e disse sussurrando: “É a Onça!” 

Onça Pintada/ Jaguar
(Panthera onca)


Meu coração começou a bater mais rápido! Era ela! O bicho mais esperados por todos! E por mim também! A Onça Pintada! Lico ainda completou a informação: "Tá com filhote!" Fiz sinal para todos os hóspedes fazerem silêncio e fui pra frente do grupo! Era uma situação perigosa! Uma mãe faz de tudo para proteger sua cria! O Lico e eu começamos a andar devagar chegando cada vez mais perto! Ninguém fazia barulho! Os cavalos estavam agitados! As orelhas em pé e os olhos fixos no predador! A Onça abraçada com o filhote estava tão entretida com ele que nem percebeu que estávamos ali!!! Foi então que a Onça largou o filhote que começou a andar... Estávamos um pouco longe ainda, mas percebi que aquele andar não era de um felino. Era um Tamanduá Mirim!!! Que tentava fugir de mais um ataque da Onça! Enquanto corria para chegar na mata olhava para trás para ver onde seu predador estava!!! A Onça permanecia sentada, observando aquela pequena criatura desengonçada. Ela se levantou e começou a se aproximar!!! O Mirim bravamente se ergueu e mostrou as garras!!! Ele não iria morrer sem lutar!!! 

Tamanduá Mirim/ Lesser Anteater  or Southern Tamandua
(Tamandua tetradactyla)


A diferença de tamanho e força era brutal e a Onça não teve dificuldade para agarrar o tamanduá novamente!!!  O que aconteceu depois foi ainda mais surpreendente!!! O predador largou o Mirim novamente!!! Ela queria apenas brincar!!! Abraçava e soltava a pequena criatura sem machucá-la!!! Fez isso inúmeras vezes até que se cansou. Então largou o tamanduá pela última vez e ele subiu rapidamente na primeira árvore que achou!!!

Tamanduá Mirim/ Lesser Anteater 
or Southern Tamandua 
(Tamandua tetradactyla)

A Onça permaneceu deitada no aberto por um tempo... Foi então que ela olhou para nós!!! E aquele olhar é tão assustador quanto fascinante! Ela domina o lugar, entende isso e quer que você entenda também. Após olhar para nós Ela se ajeitou novamente e permaneceu ali se esquentando no sol. Após alguns minutos se levantou e começou se dirigir para a mata. Antes de entrar ela parou! Lançou seu olhar em nossa direção novamente e desapareceu!!! 


Onça Pintada/ Jaguar
(Panthera onca)


Esse momento é inesquecível!!! É só aí que você entende que não é só a Onça que precisa do Pantanal, mas que o Pantanal também precisa da Onça. Fantástico!!!

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Pantanal: Capítulo 6

Capítulo 6: Lá vem o Sol

As chuvas cessam, as árvores perdem as folhas e o que antes era uma paisagem verde e exuberante se torna marrom e árida. A água que antes inundava a planície passa a ser cada vez mais escassa e se concentra em pequenas poças, onde os animais se amontoam buscando por um pouco de água. 

Filhote de capivara fugindo dos jacarés nas costas da mãe
 Capybara (Hydrochoerus hydrochaeris)


Veado campeiro com filhote no capim seco
 Pampas deer (Ozotoceros bezoarticus)

Tucano bebendo água
 Toco Toucan (Ramphastos toco)


Quati bebendo água/ South American Coati 
(Nasua nasua)

Jabuti/ Red-footed Tortoise 
(Chelonoidis carbonaria)

As Aves aquáticas começam a se concentrar nas poças, onde os peixes aprisionados são presas extremamente fáceis, periquitos chegam aos bandos para recolher as sementes deixadas pelas plantas aquáticas e os mamíferos voltam a povoar os campos. Alguns se arriscam fora das matas de cordilheira tentando matar a sede enquanto outros espreitam as poças esperando por uma possível presa. 

Socó Dorminhoco com peixe
 Black-crowned Night Heron (Nycticorax nycticorax)

Príncipe Negro procurando por sementes
Nanday Parakeet (Nandayus nenday)

 Lobinho/ Crab-eating Fox 
(Cerdocyon thous)

Tamanduá bandeira com filhote nas costas
Giant Anteater (Myrmecophaga tridactyla)

 Jaguatirica/ Ocelot
(Leopardus pardalis)


 Onça Pintada/ Jaguar
(Panthera onca)

É então que um dos eventos mais marcantes do ano se inicia no Pantanal: A Floração das Piúvas. O Pantanal então muda de cor e se torna rosa... Após uma semana elas perdem as flores e é a vez dos Para-tudos pintarem o cenário de amarelo.


Garça Maguari na Piúva
Cocoi Heron (Ardea cocoi)

 

Piúva florida (pink trumpet tree)


João Pinto no Para-tudo
Orange-backed Troupial (Icterus croconotus)

Para-tudos floridos

Após uma semana as árvores perdem as flores e paisagem volta a ser árida. No auge da seca os jacarés passam a vagar pela planície procurando por uma poça maior, que ainda tenha alimento disponível. Podem se enterrar na lama e passar até dois meses esperando pelas próximas chuvas. Mas a situação pode ficar tão dramática que as mães chegam a comer seus próprios filhotes. É uma época de fartura para os Urubus, Carcarás e outros animais que se alimentam das carcaças daqueles que não conseguiram suportar as condições severas trazidas pela Seca. 

Quati e Jacaré do Pantanal no auge da seca
Coati and Caiman

O vento e a poeira são companheiros constantes. O capim fica extremamente seco e um raio pode começar um incêndio a qualquer momento espalhando o fogo rapidamente. Parece que tudo está perdido... É então que começam as chuvas, trazendo a água que renova a vida e inicia mais um ciclo no Pantanal. 

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Pantanal: Capítulo 5

Capítulo 5: O Céu aqui na Terra

As chuvas começam e o rio Paraguai e seus afluentes recebem mais água do que conseguem suportar e transbordam, inundam e transformam o Pantanal na maior planície inundável do Planeta. As terras baixas são ocupadas completamente pela água e os campos de vegetação herbácea se transformam em leitos de lagos rasos e cristalinos.

Vazante sendo inundada. 

Vazante na cheia

Corixo na cheia

Espelho d'água

A volta das chuvas trás uma explosão de vida, as árvores, castigadas na estação da seca, voltam a produzir folhas e tudo volta a ser verde. Muitas aves começam a estação de acasalamento para aproveitar a abundância de frutos que serão produzidos aumentando a chance de sobrevivência dos filhotes. Os mamíferos por sua vez, procuram abrigo em partes mais elevadas onde podem dormir e procurar alimento, enquanto os répteis e anfíbios se sentem mais a vontade para sair.


Cervo do Pantanal/ Marsh Deer
(Blastocerus dichotomus)


 Capivara/ Capybara
(Hydrochoerus hydrochaeris)

Víbora/ Caiman lizard 
(Dracaena paraguariensis)

Jararacussu do brejo/ False Water Cobra 
(Hydronastes Gigas)

Sucuri amarela/ Yellow Anaconda 
(Eunectes notaeus)

Os campos abertos, antes habitados por veados campeiros, emas, tamanduás bandeiras e outros animais terrestres, dão lugar aos patos, jacarés e inúmeras espécies de peixes que procuram por alimento e lugar para desova junto às plantas aquáticas multicoloridas que começam a se desenvolver. 


 Jacaré do Pantanal/ Paraguayan Caiman

(Caiman yacare)


Marreca Cabocla com filhotes/ Black-bellied Whistling Duck 
(Dendrocygna autumnalis)

O Pantanal muda tanto que parece que estamos em um lugar completamente diferente. É difícil de descrever, mas quando o sol está brilhando e a água está calma a paisagem é tão bonita que é possível ver o Céu aqui na Terra.

O Céu aqui na Terra